Cacau-pereira - porto da balsa, 21:50 do dia 17 de julho de 2009

Estamos na balsa, agora, saindo do Cacau-pereira. A travessia do Rio Negro até Manaus dura em torno de 30 min nessa balsa, ela é a maior mais lenta. Normalmente teríamos que esperar até o dia seguinte, pois não teria mais balsa nesse horário, só que a situação é de emergência e há muito movimento de gente indo e vindo de Manaus. Na verdade, pouca gente está indo à Manaus comigo e o Jorge, o que me deixa ainda mais apreensivo. A balsa que vem de lá e cruzou com a nossa no meio do caminho estava abarrotada de gente e de carros, coisa incomum para o horário. Não sei o que nos espera em Manaus.


Eu normalmente sou tranquilo e despreocupado, mas confesso que essa situação está mexendo com meus nervos. Há pouco liguei para os meus pais e eles me contaram que há dois casos confirmados em Manaus e as agências de notícias dão notícias desencontradas de quantos estão em quarentena. As notícias sobre ataques nas ruas crescem a cada instante e o trabalho no Hospital Tropical é intenso pra descobrir a causa dessa epidemia. Por mim mesmo, eu não faria mais nada, não me importaria de me jogar agora mesmo ao rio e fazer companhia aos botos, talvez me encontrar com Yara. Mas não sei do que seria capaz para defender minha mãe e meus irmãos de qualquer tipo de coisa que os quisesse atacar. Nunca briguei na rua, nunca tive uma grande aventura; não sei como posso ajudar, mas sei que não vou ficar parado enquanto os meus estão à mercê de pessoas enlouquecidas no meio da cidade.


Se ao menos meu pai estivesse são, mas seus joelhos já não lhe são tão obedientes... E minha mãe? E essa balsa que não chega!!


...


Nossa! Estou avistando agora o porto do São Raimundo: quantos carros!! Quantas pessoas, quanta confusão!!


Vou para o carro, agora. Será que faço uma promessa?


São Francisco, rogai por nós!

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