Campo Grande - MS, 07:00h do dia 18 de julho de 2009


Não sei exatamente quando começou a chover... a única coisa que minha cabeça conseguia reproduzir alguns minutos atrás era aquele rosto... pensei já ter visto a fúria nos olhos de algumas pessoas, mas aquilo foi algo sobrenatural...

..Após escutar algumas batidas no vidro da frente da conveniências, o medo, que até então havia se disperso, voltou até mim... Comecei a vasculhar o balcão a procura de algum espelho, que encontrei em uma das gavetas.. era um espelho pequeno, provavelmente de uma funcionária qualquer.. com um chiclete, o colei na ponta de uma caneta e posicionei o mesmo pela lateral do balcão, em direção a porta da frente..

..Podia ver o inferno naqueles olhos... um olhar vazio, sem vida, como se aquela alma houvesse sido consumida e naquele momento, uma besta cruel possuia um corpo em busca de sangue... podia sentir meu coração acelerando as batidas.. um suor frio começou a escorrer pelo meu rosto, até me fazer sentir o gosto amargo do medo...Por um momento eu me esquecia de onde estava, com quem estava e por que eu estava ali, apenas conseguia reproduzir aquele rosto na minha mente da forma mais brutal possível.. via seus dentes ensanguentados tentando morder o vidro da porta... seus braços, como um martelo, batiam levemente na porta, talvez ele não tivesse nos visto ou percebido nossa presença ainda... o sangue escorria pelo seu corpo podre, se misturando com a água da chuva.. o vidro aparentava ser resistente, talvez à prova de balas, mas isso não fazia diminuir o pavor que consumia minha alma naquele momento...Minha mãe estava cochilando com minha irmã.. sorte delas, pois presenciar uma cena daquelas era algo que eu não desejaria nem para o meu pior inimigo, se tivesse um..

Não sei por quanto tempo presenciei aquilo.. era algo surreal e aterrorizador..das outras vezes, não tinha percebido a fúria que jazia daqueles olhos, pois estava sempre em fuga.. mas agora.. agora eu podia sentir aquilo como se estivesse a um palmo do meu rosto..

.. Da mesma forma que o medo tomou conta de mim, um alívio como jamais havia sentido antes, me veio.. atrás da criatura, pela rua, um carro passou.. não estava correndo, talvez o motorista estivesse desorientado com tudo aquilo.. talvez tivesse enlouquecido.. mas em questão de segundos, a besta que tentava adentrar a conveniências, disparou em direção ao veículo.. como uma fera partindo para o bote, aquele ser humano feroz correu em direção à sua presa, emitindo grunhidos que faziam meu coração querer sair pela boca..

Soltei o espelho e me reencostei no balcão.. fiquei ali parado, apenas olhando o vácuo, por cerca de duas horas, talvez.. Agora já me sinto melhor, começo a entender que isto não é um pesadelo e sim algo bem real.. Uma vontade de sobreviver começa a percorrer o meu corpo.. sinto todos os meus sentidos em alerta e decido que algo deve ser feito.. deve ser feito pela minha vida e, principalmente, pela da minha família que ali se encontra..

Luiz Paulo M. de Souza

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